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CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO

Parte 2 - Capítulo 15

Religião Espírita


Religião, em sua acepção ampla e verdadeira, é um elo que religa os homens em uma comunidade de sentimentos, de princípios e de crenças: consecutivamente, esse nome foi dado a esses mesmos princípios, edificados e formulados em dogmas ou artigos de fé.

O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo é, portanto, um elo essencialmente moral que religa os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações e não é somente o fato de compromissos materiais que se rompem à vontade, ou de cumprimento de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao Espírito.

O efeito desse elo moral é estabelecer entre os que ele une, como consequência da comunidade de opiniões e sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas.

O Espiritismo é uma religião, porque ele é a doutrina que funda os laços de fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre as mais sólidas bases: as leis da própria Natureza.

Mas, então, porque inicialmente não foi o Espiritismo declarado uma religião?

Porque a palavra religião é inseparável da de culto, revela exclusivamente uma idéia de forma, e o Espiritismo não é isso.

Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público só veria nele uma nova edição, uma variante dos princípios absolutos em matéria de fé, uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios.

O público não o separaria das idéias de misticismo e dos abusos, contra os quais sua opinião tem se elevado tantas vezes.

Não possuindo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, o Espiritismo não poderia nem deveria ornar-se com um título, sobre o valor do qual inevitavelmente se estabeleceria a incompreensão. Eis porque ele se disse simplesmente uma doutrina filosófica e moral.

Crer em Deus todo poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e na sua imortalidade; na preexistência da alma como justificativa da presente existência; na pluralidade das existências como meio de expiação, reparação e adiantamento intelectual e moral; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na felicidade crescente com a perfeição; na remuneração equitativa do bem e do mal, segundo o princípio "a cada um segundo suas obras"; na igualdade da justiça para todos, sem exceções, nem favores ou privilégios para criatura alguma; na duração da expiação limitada à imperfeição; no livre arbítrio do homem, deixando-lhe a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade das relações entre o mundo visível e o mundo invisível; na solidariedade que liga todos os entes passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados; considerar a vida terrestre como transitória e uma das faces da vida do Espírito, que é eterna; aceitar corajosamente as provas, visto ser o futuro mais desejável que o presente; praticar a caridade por pensamentos, palavras e obras, na mais ampla acepção do vocábulo; esforçar-se cada dia para ser melhor que na véspera, extirpando da alma alguma imperfeição; submeter todas suas crenças ao controle do livre exame e da razão, e nada aceitar por uma fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por mais irracionais que nos pareçam e não violentar a consciência de ninguém; ver, enfim, nas descobertas da ciência, a revelação das leis da Natureza, que são as Leis de Deus.

Eis o credo, a religião do Espiritismo, religião que pode conciliar-se com todos os cultos, isto é, com todas as maneiras de adorar a Deus.

Esse é o laço que deve unir todos os Espíritos numa santa comunhão de pensamentos, enquanto se espera que ele ligue todos os homens sob a bandeira da fraternidade universal.

Assim como o Cristo dissera que não vinha destruir a lei, mas dar-lhe cumprimento, o Espiritismo também não veio destruir a lei cristã, mas cumpri-la.

Nada ensina em contrário ao que o Cristo ensinara e desenvolve, completa e explica, em termos claros para toda a gente, o que fora dito de forma alegórica.

O Espiritismo vem realizar, nos tempos preditos, o que o Cristo anunciara, e preparar o cumprimento das coisas futuras. É, portanto, a sua obra presidida por ele mesmo, conforme igualmente havia anunciado para a regeneração que se opera e com a qual se prepara o reinado de Deus na Terra.

A religião Espírita começa no primeiro capítulo do "Livro dos Espíritos", com a definição de Deus, na sua existência como Inteligência Suprema e causa primária da criação do mundo por ele.

Temos ali, ao mesmo tempo, a apresentação do Espiritismo como religião e a sua ligação com o Cristianismo, pois o princípio bíblico da Criação, tipicamente judeu, herdado pelo Cristianismo, transmite-se imediatamente ao Espiritismo.

A seguir, o livro fundamental da doutrina mantém essa mesma posição, passando a fazer, até mesmo, no capítulo III, considerações sobre a legitimidade dos conceitos bíblicos a respeito da Criação.

A lei de adoração explica a religião como "sentimento inato", como lei natural a que o homem não pode furtar-se.

A prece é indicada como um "ato de adoração".

O "Livro dos Espíritos" indica Jesus como "o tipo de perfeição a que o homem pode aspirar na Terra", afirmando que Deus no-lo oferece como "o mais perfeito modelo"... (ítem 625 do "Livro dos Espíritos").

No ítem 627 temos a explicação do Espiritismo como continuação natural e necessária do Cristianismo, ou seja, a "preparação do Reino de Deus anunciado por Jesus".

Nas conclusões finais do "Livro dos Espíritos" Kardec afirma que o Espiritismo é forte porque se apoia nas próprias bases da religião: Deus, a alma, as penas e as recompensas futuras, etc.

Todas essas proposições se confirmam nos livros seguintes da Codificação, particularmente em "O Evangelho segundo o Espiritismo" e em "O Céu e o Inferno".

A mensagem colocada como prefácio de "O Evangelho segundo o Espiritismo" mostra-nos o Espiritismo como restabelecimento do Cristianismo em seu verdadeiro sentido. A Religião Espírita é apresentada como 3ª Revelação, sequência natural da 1ª (Moisés) e da 2ª (Cristo) e como "obra de Cristo", que a preside.

Se a Ciência Espírita é a ciência de princípio espiritual e a Religião Espírita é a revelação das leis do mundo moral, ambas devendo juntar-se às ciências materiais para a completa explicação do Universo, é evidente que a Ciência Espírita é religiosa e que a Religião Espírita é científica.

Depreende-se do exposto, que o Espiritismo está livre da prática de cerimônias religiosas, porque a cerimônia religiosa, seja qual for o seu colorido ou credo que a organiza, tem por princípio a materialização de ensinamentos divinos para ajustá-los ao alcance de visão de seus adeptos.

Ainda mais, além de ser a representação de um princípio espiritual, todo cerimonial compreende uma fase para-hipnótica, procurando manter adormecido o senso moral de seu praticante, a fim de que ele permaneça fiel à ordem a que se incorporou ou que haja recebido tradicionalmente de seus pais ou tutores.

Se, no princípio de sua caminhada evolutiva, o cerimonial se apresenta como um auxiliar, em determinado ponto de sua evolução a alma atinge uma fase em que os adereços religiosos, os cerimoniais, se tornam altamente prejudiciais, por conservar o Espírito atado às normas arcaicas de que já não necessita. Manter-se imantados aos cerimoniais, então, significa-lhe uma vinculação com o passado e uma interrupção ou retardamento de sua progressão.

A imagem, os parâmetros, as exibições ornamentais de aparatos religiosos, dificultam o período introspectivo da atualidade, quando o homem deve olhar para dentro de si mesmo e tomar-se de coragem para reformar-se moralmente.

O culto exterior furta-lhe essa oportunidade. Após um trânsito de milênios, em que se via obrigado a lutar com problemas de adaptação ao meio geográfico e social a que fora remetida pela reencarnação, a criatura aproxima-se do novo estágio.

É hora de interiorizar-se e descobrir, dentro de si mesmo, a essência eterna e cuidar dela com carinho e desvelo.

Já a exteriorização, em forma de cerimônia e símbolos, conduz a uma paralisação ou adormecimento de sua vontade e ocasiona uma atrofia em sua evolução.

Nesse sentido é que se poderá interpretar que as religiões tradicionalistas ou literalistas, sejam um adormecimento para o povo.

Respeitando, porém, aqueles que ainda estão aprisionados aos convencionalismos e aos rituais religiosos, deveremos combater em nós mesmos todo e qualquer impulso de formação de cerimoniais no meio espírita.

Nem batismo, nem casamento, nem pregações suntuosas, nem cultos às imagens ou retratos, nem vestes especiais.

Nenhum desses sistemas, que terminam por empanar a nossa marcha, deverá ser incorporado ou cultuado, seja a que título for, seja sob a capa de qualquer (aparentemente) nobre e respeitável justificativa.

Religião Espírita é a consequência natural, necessária e inevitável, das revelações da Ciência Espírita e das concepções da Filosofia Espírita.

Toda filosofia dá nascimento a um sistema de moral, e a moral espírita, que tem por finalidade não apenas indicar-nos regras de conduta social, mas normas espirituais para a vida superior leva-nos, necessariamente, para o sentimento religioso do mundo e da vida.




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