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CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO

Parte 2 - Capítulo 14

Os milagres no sentido teológico - O Espiritismo não faz milagres


Na acepção etimológica, a palavra milagre (de mirare, admirar) significa: admirável, coisa extraordinária, surpreendente.

A Academia definiu-a desta maneira: "Um ato do poder divino contrário às leis da Natureza, conhecidas".

Na acepção usual, essa palavra perdeu, como tantas outras, a significação primitiva. De geral, que era, se tornou de aplicação restrita a uma ordem particular de fatos.

No entender das massas, um milagre implica a idéia de um fato extranatural. No sentido teológico, é uma derrogação das leis da Natureza, por meio da qual Deus manifesta o seu poder.

Com efeito, tal acepção é vulgar, que se tornou o sentido próprio, de modo que, só por comparação e por metáfora, a palavra se aplica às circunstâncias ordinárias da vida.

Um dos caracteres do milagre propriamente dito é o de ser inexplicável, por isso mesmo que se realiza com exclusão das leis naturais. É tanto essa idéia que se associa que, se um fato milagroso venha a encontrar explicação, se diz que já não constitui milagre, por mais espantoso que seja.

O que, para a Igreja, dá valor aos milagres é precisamente a origem sobrenatural deles e a impossibilidade de serem explicados. Ela se firmou tão bem sobre esse ponto, que assemelhar os milagres aos fenômenos da Natureza constitui para ela uma heresia, um atentado contra a fé, tanto assim que excomungou e até queimou muita gente por não ter aceitado crer em certos milagres.

Outro caráter do milagre é ser insólito, isolado, excepcional. Logo que um fenômeno se reproduz, quer espontaneamente, quer voluntariamente, é que está submetido a uma lei e, desde então, seja ou não conhecida a lei, já não pode haver milagres.

Aos olhos dos ignorantes, a ciência faz milagres todos os dias.

Se um homem, que se acha realmente morto, for chamado à vida por intervenção divina, haverá milagre, por ser esse fato contrário às leis da Natureza.

Mas, se em tal homem houver apenas uma aparência de morte, se lhe restar uma vitalidade latente e a ciência, ou uma ação magnética, conseguir reanimá-lo, para as pessoas esclarecidas ter-se-á dado um fenômeno natural, mas para o vulgo ignorante, o fato passará por miraculoso.

Lance um físico, no meio de certa campina, um papagaio elétrico e faça que o raio caia sobre uma árvore e, certamente, esse novo Proteu será tido por armado de diabólico poder.

Houvesse, porém, Josué, detido o movimento do Sol, ou antes, da Terra, e teríamos aí o verdadeiro milagre, porquanto nenhum magnetizador existe dotado de bastante poder para operar semelhante prodígio.

Foram fecundos em milagres os séculos de ignorância, porque se considerava sobrenatural tudo aquilo cuja causa não se conhecia.

À proporção que a ciência revelou novas leis, o círculo do maravilhoso se foi restringindo mas, como a ciência ainda não explorava todo o vasto campo da Natureza, larga parte dele ficou reservado para o maravilhoso.

Expulso do domínio da materialidade, pela ciência, o maravilhoso se encastelou no da espiritualidade, onde encontrou o seu último refúgio.

Demonstrando que o elemento espiritual é uma das forças da Natureza, força que incessantemente atua em concorrência com a força material, o Espiritismo faz que voltem ao rol dos efeitos naturais os que dele haviam saído porque, como os outros, também tais efeitos se acham sujeitos a leis.

Se for expulso da espiritualidade, o maravilhoso já não terá razão de ser e só então se poderá dizer que passou o tempo dos milagres.

O Espiritismo não faz milagres

O Espiritismo vem, pois, a seu tempo, fazer o que cada ciência faz no seu advento: revelar novas leis e explicar, conseguintemente, os fenômenos compreendidos na alçada dessas leis.

Esses fenômenos, é certo, se prendem à existência dos Espíritos e à intervenção deles no mundo material e isso é, dizem, em que consiste o sobrenatural.

Mas, então, fora mister se provasse que os Espíritos e suas manifestações são contrários às leis da Natureza, que aí não há, nem pode haver, a ação de uma dessa leis.

O Espírito mais não é do que a alma sobrevivente ao corpo, é o ser principal, pois não morre, ao passo que o corpo é simples acessório, sujeito à destruição.

Sua existência, portanto, é tão natural depois como durante a encarnação, está submetido às leis que regem o princípio material mas, como esses dois princípios têm necessária afinidade, como reagem incessantemente um sobre o outro, como da ação simultânea deles resultam o movimento e a harmonia do conjunto, segue-se que a espiritualidade e a materialidade são duas partes de um mesmo todo, tão natural uma quanto a outra, não sendo pois, a primeira, uma anomalia na ordem das coisas.



Referência bibliográfica:
Gênese - capítulo XIII - ítens 1, 2, 3 e 4




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