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CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO

Parte 2 - Capítulo 13

Do maravilhoso e do sobrenatural


Para os que consideram a matéria a única potência da Natureza, tudo o que não pode ser explicado pelas leis da matéria é maravilhoso ou sobrenatural e, para eles, maravilhoso é sinônimo de superstição.

Se assim fosse, a religião, que se baseia na existência de um princípio imaterial, seria um tecido de superstição.

Ou ousam dizê-lo em voz alta, mas dizem-no baixinho e julgam salvar as aparências, concedendo que uma religião é necessária ao povo e às crianças, para que se tornem ajuizados.

Ora, uma das duas, ou o princípio religioso é verdadeiro, ou falso. Se verdadeiro, ele o é para toda gente. Se falso, não tem maior valor para os ignorantes, do que para os instruídos.

Os que atacam o Espiritismo, em nome do maravilhoso, se apoiam geralmente no princípio materialista, porquanto negando qualquer efeito extra-material negam, ipso-fato, a existência da alma.

Sondai-lhes, porém, o fundo das consciências; perscrutai bem o sentido de suas palavras e descobrireis quase sempre esse princípio, se não categoricamente formulado, germinando por baixo da capa com que o cobrem, a de uma pretensa filosofia racional.

Lançando à conta do maravilhoso tudo o que decorre da existência da alma são, pois, consequentes consigo mesmo: não admitindo a causa, não podem admitir os efeitos.

Daí, entre eles, uma opinião preconcebida, que os torna impróprios para julgar lisamente o Espiritismo, visto que o princípio donde partem é o da negação de tudo que não seja material.

Quanto a nós, espíritas, dar-se-á aceitemos todos os fatos qualificados de maravilhosos, pela simples razão de admitirmos os efeitos, que são a consequência da existência da alma.

Dar-se-á sejamos campeões de todas as utopias, de todas as excentricidades sistemáticas?

Quem o supuser demonstrará bem minguado conhecimento do Espiritismo.

Mas os nossos adversários não atentam nisto muito de perto. O de que menos cuidam é da necessidade de conhecerem aquilo de que falam. Segundo eles, o maravilhoso é absurdo. Ora, o Espiritismo se apoia em fatos maravilhosos; logo, o Espiritismo é absurdo. E consideram sem apelação esta sentença.

Acham que opõem um argumento irretorquível quando, depois de terem procedido a eruditas pesquisas acerca dos convulsionários de Saint Médard, dos fanáticos de Cevenas, ou das religiosas de Loudum, chegaram à descoberta de patentes embustes, que ninguém contesta.

Semelhantes histórias, porém, serão o Evangelho do Espiritismo? Terão seus adeptos negado que o charlatanismo há explorado, em proveito próprio, alguns fatos?

E que alguns fatos tenham sido exagerados pelo fanatismo?

Tão solidário é o Espiritismo com as extravagâncias que se cometam, em seu nome, quanto a verdadeira religião o é com os excessos do sectarismo.

Muitos críticos se limitam a julgar o Espiritismo pelos contos de fadas e pelas lendas populares que lhe são as ficções. O mesmo fora julgar a História pelos romances históricos, ou pelas tragédias.

Em lógica elementar, para se discutir uma coisa, preciso se faz conhecê-la, porquanto a opinião de um crítico só tem valor quando ele fala com perfeito conhecimento de causa. Somente então sua opinião, embora errônea, poderá ser tomada em consideração. Que peso, porém, terá, quando ele trata do que não conhece?

A legítima crítica deve demonstrar não só erudição, mas também profundo conhecimento do objeto que versa, juízo reto e imparcialidade a toda prova, sem o que qualquer menestrel poderá arrogar-se o direito de julgar Rossini e um pinta-monos o de censurar Rafael.

Assim, o Espiritismo não aceita todos os fatos considerados maravilhosos ou sobrenaturais. Longe disso, demonstra a impossibilidade de grande número deles e o ridículo de certas crenças, que constituem a superstição propriamente dita.

É exato que, no que ele admite, há coisas que para os incrédulos são puramente do domínio do maravilhoso ou, por outra, da superstição.

Seja, mas ao menos discutís apenas esses pontos, porquanto com relação aos demais, nada há que dizer e pregais em vão.

Atendo-vos ao que o próprio Espiritismo refuta, provais ignorar o assunto e os vossos argumentos erram o alvo.

Porém, até onde vai a crença do Espiritismo? Lede. Observai e sabê-lo-eis. Só com o tempo e o estudo se adquire o conhecimento de qualquer ciência.

Ora, o Espiritismo, que entende com as graves questões de filosofia, com todos os ramos da ordem social, que abrange tanto o homem físico quanto o homem moral é, em si mesmo, uma ciência, uma filosofia, que já não pode ser aprendida em algumas horas, como nenhuma ciência.

Tanta puerilidade haveria em se querer ver todo o Espiritismo numa mesa girante, como toda a física em alguns brinquedos de crianças.

A quem não se limite a ficar na superfície são necessárias não somente algumas horas, mas meses e anos, para lhe sondar os arcanos.

Por aí se pode apreciar o grau de saber e o valor da opinião dos que se atribuem o direito de julgar, porque viram uma ou duas experiências, as mais das vezes por distração ou divertimento.

Dirão eles, com certeza, que não lhes sobram lazeres para se consagrarem a tais estudos todo o tempo que reclamam.

Está bem. Nada a isso os constrange. Mas, quem não tem tempo de aprender uma coisa não se mete a discorrer sobre ela e, ainda menos, a julgá-la, se não quiser que o acoímem de leviano.

Ora, quanto mais elevada seja a posição que ocupemos na ciência, tanto menos escusável é, digamos, levianamente tratarmos de um assunto que desconhecemos.



Referência bibliográfica:
Transcrição de "O Livro dos Médiuns" - primeira parte - capítulo II - ítens 10 a 13




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