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CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO

Parte 2 - Capítulo 05

O Livro dos Espíritos


Na França, em 1854, as pessoas cultas interessavam-se pelo estudo das propriedades do magnetismo, existindo mesmo muitas que reuníam-se para procederem a experiências quanto aos seus efeitos.

Ao surgirem os primeiros fenômenos das "mesas girantes" o mesmo foi atribuído às propriedades não bem definidas do próprio magnetismo e, somente algum tempo depois, é que descobriu-se que a verdadeira causa que fazia as mesas girarem estava na atuação dos Espíritos sobre elas.

Foi nessa época que Allan Kardec ouviu falar, pela primeira vez, sobre as mesas girantes, por alguém que já tivera a oportunidade de observar pessoalmente o fenômeno.

Isto aconteceu ao encontrar-se com um amigo, magnetizador, que o informou terem descoberto uma singular propriedade no magnetismo pois que, magnetizando mesas, podiam fazer com que elas girassem e fizessem movimentos, obedecendo a vontade do magnetizador.

Kardec opinou que o fato não era totalmente impossível, pois sendo o fluído magnético uma espécie de eletricidade, poderia mesmo atuar sobre corpos inertes, fazendo com que se movessem.

Algum tempo depois, encontraram-se novamente e o magnetizador informou a Kardec terem descoberto que as mesas, quando magnetizadas, não somente se movimentavam mas podiam fazer sinais, através dos quais respondiam as perguntas que lhes dirigiam. A isto Kardec respondeu, simplesmente, que não acreditava.

Em 1855 Kardec encontrou-se com outro amigo, também estudioso do magnetismo e que o informou terem descoberto serem Espíritos que faziam as mesas se movimentar e, então, diz Kardec: "Foi o primeiro que me falou na intervenção dos Espíritos e me contou tantas coisas surpreendentes que, longe de me convencer, me aumentou as dúvidas".

Finalmente, em maio de 1855, Kardec presenciou pela primeira vez o fenômeno das mesas que giravam. E, em condições tais, que não deixaram dúvidas.

Assistiu também a ensaios de escrita mediúnica, com um lápis preso a uma cesta de vime, sobre cujas bordas os médiuns apoiavam os dedos para manterem a cesta equilibrada.

Diz Kardec, em "Obras Póstumas": "Minhas idéias estavam longe de precisar-se, mas havia ali um fato que, necessariamente, decorria de uma causa. Eu entrevia, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daquele fenômeno, qualquer coisa de sério, como a revelação de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo".

"Bem depressa, continua Kardec, se me ofereceu a ocasião de observar mais atentamente os fatos, como ainda não o fizera".

"Numa das reuniões travei conhecimento com o Sr. Baudim e fui convidado a assistir às sessões que se realizavam em sua casa e às quais me tornei logo assíduo.

Os médiuns eram as duas senhoritas Baudim, que escreviam numa ardósia, com o auxílio de uma cesta chamada carrapeta (que se encontra descrita no "Livro dos Médiuns").

Esse processo, que exige o concurso de duas pessoas, exclui toda a possibilidade de intromissão das idéias do médium. Aí tive ensejo de ver comunicações contínuas e respostas formuladas, algumas vezes até a perguntas mentais, que acusavam, de modo evidente, a intervenção de uma inteligência estranha".

Em "Obras Póstumas" Kardec comenta, também, que os assuntos tratados nessas reuniões com os Espíritos eram frívolos e que comunicava-se um Espírito chamado Zéfiro, que era bondoso mas muito brincalhão.

"Mas, diz, Kardec, foi nessas reuniões que comecei os meus estudos sérios de Espiritismo, menos, ainda, por meio de revelações, do que de observações.

Apliquei a essa nova ciência, como o fizera até então, o método experimental.

Nunca elaborei teorias preconcebidas; observava cuidadosamente; comparava, deduzia consequências dos efeitos; procurava remontar às causas, por dedução e pelo encadeamento lógico dos fatos.

Não admitia por válida uma explicação, senão quando resolvia todas as dificuldades da questão.

Foi assim que procedi, sempre, em meus trabalhos anteriores, desde a idade dos 15 aos 16 anos.

Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurara em toda a minha vida.

Era, em suma, toda uma revolução nas idéias e nas crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspecção e não levianamente; ser positivista e não idealista, para não se deixar iludir.

Um dos primeiros resultados que colhi das minhas observações foi que os Espíritos, nada mais sendo do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria, nem a ciência integral; que o saber de que dispunham se circunscrevia ao grau de adiantamento que haviam alcançado e que a opinião deles só tinha o valor de uma opinião pessoal.

Reconhecida desde o início, esta verdade me preservou do grave escolho de crer na infalibilidade dos Espíritos e me impediu de formular teorias prematuras, tendo por base o que fora dito por um ou alguns deles.

O simples fato da comunicação com os Espíritos, dissessem eles o que dissessem, provava a existência do mundo invisível ambiente. Já era um ponto essencial, um imenso campo aberto às nossas explorações, a chave de inúmeros fenômenos, até então inexplicados.

O segundo ponto, não menos importante, era que aquela comunicação permitia se conhecesse o estado desse mundo, seus costumes, se assim podemos nos exprimir.

Vi logo que cada Espírito, em virtude de sua posição pessoal e de seus conhecimentos, me desvendava uma face daquele mundo, do mesmo modo que se chega a conhecer o estado de um país, interrogando seus habitantes de todas as classes, não podendo um só, individualmente, informar-nos de tudo.

Compete à observação formar o conjunto, por meio de documentos colhidos de diferentes lados, colecionados, coordenados e comparados uns com os outros.

Conduzi-me, pois, com os Espíritos, como houvera feito com homens. Para mim eles foram, do menor ao maior, meios de informar e não reveladores predestinados.

Tais as disposições com que empreendi meus estudos e neles prossegui sempre. Observar, comparar e julgar, essa a regra que constantemente segui.

Tentei lá obter a resolução dos problemas que me interessavam, do ponto de vista da filosofia, da psicologia e da natureza do mundo invisível.

Levava para cada sessão uma série de questões preparadas e metodicamente dispostas. Eram sempre respondidas com precisão, profundeza e lógica.

Eu, a princípio, cuidava apenas de instruir-me. Mais tarde, quando vi que aquilo constituía um todo e ganhava as proporções de uma doutrina, tive a idéia de publicar os ensinos recebidos, para instrução de toda a gente.

Foram aquelas mesmas questões que, sucessivamente desenvolvidas e completadas, constituíram a base do Livro dos Espíritos".

Em 1856 Kardec passou a frequentar, também, outras reuniões e assim teve a oportunidade de submeter, novamente, as mesmas perguntas a vários Espíritos, através de mais de 10 médiuns que trabalhavam em reuniões realizadas em locais distantes uns dos outros.

Foi registrando as respostas recebidas e quando, para a mesma pergunta, as várias respostas eram iguais ou semelhantes, Kardec considerava a informação como verdadeira.

Finalmente, no dia 18 de abril de 1857, surgiu a primeira edição de "O Livro dos Espíritos".



Referência bibliográfica:
Obras Póstumas - 2ª parte




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