Grupo Promotor de Estudos Espíritas - SP

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CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO

Parte 2 - Capítulo 06

A Codificação Espírita


"O Livro dos Espíritos" é o compêndio doutrinário do Espiritismo, o livro fundamental. Foi com ele que a Doutrina Espírita começou.

"O Livro dos Espíritos" não é, porém, apenas a pedra fundamental ou o marco inicial da nova codificação. É o seu próprio delineamento, o seu núcleo central e, ao mesmo tempo, o arcabouço geral da doutrina.

Examinando-o, em relação às demais obras de Kardec, que completam a Codificação, verificamos que todas essas obras partem de seu conteúdo.

Podemos definir as suas várias zonas, do texto, correspondentes a cada uma delas.

Assim como na Bíblia há o núcleo central do Pentateuco e, no Evangelho, o do ensino moral do Cristo, no "Livro dos Espíritos" podemos encontrar uma parte que se refere a ele mesmo, ao seu próprio conteúdo: é o constante dos Livros I e II, até o capítulo quinto. Este núcleo representa, dentro da esquematização geral da Codificação, que encontramos no livro, a parte que a ele corresponde.

Quanto aos demais, verificamos o seguinte:

-------- "O Livro dos Médiuns", sequência natural deste livro, que trata especialmente da parte experimental da doutrina, tem a sua fonte no livro II, a partir do capítulo sexto até o final. Toda a matéria contida nessa parte é reorganizada e ampliada naquele livro, principalmente a referente ao capítulo IX - "Intervenção dos Espíritos no mundo corpóreo".

-------- "O Evangelho segundo o Espiritismo" é uma decorrência natural do livro III, em que são estudadas as leis morais, tratando especialmente da aplicação dos princípios da moral evangélica, bem com dos problemas religiosos da adoração, da prece e da prática da caridade. Nessa parte o leitor encontrará, inclusive, as primeiras formas de "Instruções dos Espíritos", comuns àquele livro, com a transcrição de comunicações por extenso e assinadas, sobre questões evangélicas.

-------- "O Céu e o Inferno" decorre do livro IV, em que são estudados os problemas referentes às penas e aos gozos terrenos e futuros, inclusive com a discussão do dogma das penas eternas e a análise de outros dogmas, como o da ressurreição da carne e os do paraíso, inferno e purgatório.

-------- "A Gênese" relaciona-se aos capítulos II, III e IV do livro I e aos capítulos IX, X e XI do livro II, assim como as partes dos capítulos do livro III que tratam dos problemas genésicos e da evolução física da Terra. Por seu sentido amplo, que abrange ao mesmo tempo as questões da formação e do desenvolvimento do globo terreno e as referentes a passagens evangélicas e escriturísticas, esse livro da Codificação se ramifica de maneira mais difusa que os outros, na estrutura da obra mater.

-------- Os pequenos livros introdutórios ao estudo da doutrina - "O Principiante Espírita" e "O que é o Espiritismo", que não se incluem propriamente na Codificação, também eles estão diretamente relacionados com o "Livro dos Espíritos", decorrendo da introdução e dos prolegômenos.

A Codificação se apresenta, pois, como um todo homogêneo e consequente. À luz desse estudo, caem por terra as tentativas de separar um ou outro livro do bloco da Codificação, como possível expressão de uma forma diferente de pensamento.

E note-se que as ligações aqui assinaladas, de maneira apenas formal, podem ser esclarecidas em profundidade por um estudo minucioso do conteúdo das diversas partes do "Livro dos Espíritos", em confronto com os demais livros.

Esse estudo exigiria, também, uma análise dos textos primitivos, como a primeira edição deste livro e a primeira do "Livro dos Médiuns" e do "Evangelho segundo o Espiritismo" pois, como se sabe, todas essas obras foram ampliadas por Kardec, depois de suas primeiras edições, sempre sob assistência e orientação dos Espíritos.

Num estudo mais amplo e profundo seria possível mostrar-se o desenvolvimento de certos temas, que apenas colocados pelo "Livro dos Espíritos", vão ter a sua solução em obras posteriores.

É o que se verifica, por exemplo, com as ligações do Cristianismo e o Espiritismo, que se definem completamente no Evangelho, ou com o problema controvertido da origem do homem, que vai ter a sua explicação definitiva na Gênese ou, ainda, com as questões mediúnicas solucionadas no "Livro dos Médiuns", as teológicas e escriturísticas, no "O Céu e o Inferno".

Convém notar, entretanto, que o desenvolvimento de todas essas questões não representa, em nenhum caso, a modificação dos princípios firmados neste livro.

Às vezes, problemas apenas aflorados no "Livro dos Espíritos", vão ser desenvolvidos de tal maneira em outras obras que, ao lê-las, temos a impressão de encontrar novidade. A verdade, entretanto, é que neste livro eles já foram assinalados de maneira sintética.

É o que ocorre, por exemplo, com o problema da evolução geral, definida por Leon Denis naquela frase célebre: "A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no homem".

Veja-se, a este respeito, a definição do ítem 540 do "Livro dos Espíritos":

--------P - Os Espíritos que exercem ação nos fenômenos da Natureza operam com conhecimento de causa, usando o livre arbítrio, ou por efeito de instintivo ou irrefletido impulso?

--------R - "Uns sim, outros não. Estabeleçamos uma comparação: Considera essas miríades de animais que, pouco a pouco, fazem emergir do mar ilhas e arquipélagos. Julgas que não há aí um fim providencial e que essa transformação da superfície do globo não seja necessária à harmonia geral?

--------Entretanto, são animais de ínfima ordem que executam essas obras, provendo as suas necessidades e sem suspeitarem de que são instrumentos de Deus.

--------Pois bem, do mesmo modo, os Espíritos mais atrasados oferecem utilidade ao conjunto. Enquanto se ensaiam para a vida, antes que tenham plena consciência de seus atos e estejam no gozo pleno do livre arbítrio, atuam em certos fenômenos de que inconscientemente se constituem os agentes.

--------Primeiramente, executam. Mais tarde, quando suas inteligências já houverem alcançado certo desenvolvimento, ordenarão e dirigirão as coisas do mundo material. Depois, poderão dirigir as do mundo moral.

--------É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo.

--------Admirável lei de harmonia, que o vosso acanhado Espírito ainda não pode apreender em seu conjunto".




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