Parte 2 / Capítulo 20 (página anterior) | ÍNDICE | Parte 2 / Capítulo 22 (próxima página) |
Tendo a matéria que ser objeto do trabalho do Espírito, para desenvolvimento de suas faculdades, era necessário que ele pudesse atuar sobre ela, pelo que veio habitá-la, como o lenhador habita a floresta.
Tendo a matéria que ser, ao mesmo tempo, objeto e instrumento de trabalho, Deus, em vez de unir o Espírito à pedra rígida, criou, para seu uso, corpos organizados, flexíveis, capazes de receber todas as impulsões da sua vontade e de se prestarem a todos os seus movimentos.
O corpo é, pois, simultaneamente, o envoltório e o instrumento do Espírito e, à medida que este adquire novas aptidões, reveste outro invólucro apropriado ao novo gênero de trabalho que lhe cabe executar, tal qual se faz com o operário, a quem é dado instrumento menos grosseiro, à proporção que ele vai se mostrando apto a executar obra mais bem cuidada.
Para sermos mais exatos, devemos dizer que é o próprio Espírito que molda seu envoltório e o apropria às suas novas necessidades. Aperfeiçoa-o e lhe desenvolve e completa o organismo, à medida que experimenta a necessidade de manifestar novas faculdades. Numa palavra, talha-o de acordo com a sua inteligência.
Deus lhe fornece os materiais. Cabe a ele, Espírito, empregá-los.
É assim que as raças adiantadas têm um organismo ou, se quiserem, um aparelho cerebral mais aperfeiçoado do que as raças primitivas. Desse modo, igualmente se explica o cunho especial que o caráter do Espírito imprime aos traços da fisionomia e às linhas do corpo.
Desde que um Espírito nasce para a vida espiritual tem, por adiantar-se, que fazer uso de suas faculdades, rudimentares a princípio.
Por isso é que reveste um envoltório adequado ao seu estado de infância intelectual, envoltório que ele abandona para tomar outro, à proporção que se lhe aumentam as forças.
Ora, como todos os tempos houve mundos e esses mundos deram nascimento a Espíritos, em todos os tempos os Espíritos, qualquer que fosse o grau de adiantamento que houvessem alcançado, encontraram os elementos necessários à sua vida carnal.
Por ser exclusivamente material, o corpo sofre as vicissitudes da matéria. Depois de funcionar por algum tempo, ele se desorganiza e decompõe.
O princípio vital, não mais encontrando elemento para a sua atividade, se extingue e o corpo morre. O Espírito, para quem este, carente de vida, se torna inútil, deixa-o como se deixa uma casa em ruínas ou uma roupa imprestável.
O corpo, conseguintemente, não passa de um envoltório destinado a receber o Espírito. Desde então, pouco importam a sua origem e os materiais que entraram em sua construção.
- Seja ou não o corpo do homem uma criação especial, o que não padece dúvida é que tem a formá-lo os mesmos elementos que o dos animais; a animá-lo o mesmo princípio vital ou, a aquecê-lo, o mesmo fogo, como tem a iluminá-lo a mesma luz e se acha sujeito às mesmas vicissitudes e às mesmas necessidades.
É um ponto que não sofre contestação.
A não se considerar, pois, senão a matéria, abstraindo do Espírito, o homem nada tem que o distingua do animal. Tudo, porém, muda de aspecto, logo que se estabelece distinção entre a habitação e o habitante.
Ou numa choupana, ou envergando as vestes de um campônio, um nobre senhor não deixa de o ser. O mesmo se dá com o homem: não é sua vestimenta de carne que o coloca acima do bruto e faz dele um ser à parte; é o seu ser espiritual, seu Espírito.
Referência bibliográfica:
A Gênese - capítulo XI - ítens 10, 11, 12 e 13
Parte 2 / Capítulo 20 (página anterior) | ÍNDICE | Parte 2 / Capítulo 22 (próxima página) |